Ansiedade: saiba mais sobre esse transtorno

Por Deisy Emerich-Geraldo

 

Os Transtornos Ansiosos são um dos os mais comuns na população brasileira. Cerca de 20 milhões de brasileiros são diagnosticas com ansiedade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2017) e, em São Paulo, dados indicam que 28.1% de uma amostra apresentam este quadro (Viana & Andrade, 2012). Além disso, os dados acerca da população infantil também são preocupantes. Metanálise estima que a taxa prevalência de transtornos ansiosos seja de 6.5% em crianças e adolescentes (Polanczyk e colaboradores, 2015).

 

Quando falamos de medo e ansiedade geralmente uma das primeiras noções que aparecem é a de que se tratam de emoções ruins. É importante deixarmos claro desde já: todas as nossas emoções têm função e não existem emoções “boas” ou “ruins”. Categorizá-las deste modo pode nos fazer pensar, erroneamente, que a todo custo devemos evitar as emoções ruins. E aqui teremos outra verdade: é impossível eliminar o medo ou a ansiedade!

 

Mas se todas as emoções têm alguma função, qual seria a função do medo e ansiedade? O medo é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto a ansiedade envolve antecipar um cenário futuro que é desagradável ao nosso organismo (um evento ou estímulo aversivo). A identificação de “ameaça” foi muito importante para a nossa sobrevivência como espécie. Como diz Leahy “quem não fosse ansioso o suficiente simplesmente não sobrevivera” (2011, p. 24). Era preciso antecipar o cenário aversivo para se preparar: Era importante pensar “E se faltar comida?” para estocar comida para o inverno e evitar morrer nesta estação.

 

Geralmente, a ansiedade nos dá pistas em nosso corpo: a respiração fica acelerada, o coração bate rapidamente, as mãos podem suar, o rubor no rosto, a tensão muscular. Quando sentir tais reações e se perceber ansioso ou ansiosa é importante se auto-observar para ver qual foi a ameaça identificada. Uma dica importante para notar a ansiedade é que ela geralmente é articulada em nossos pensamentos como um uma frase do tipo “E se…?”. Alguns exemplos de pensamentos que ilustram isto: “E se eu for mal na prova?”, “E se as pessoas rirem de mim?”, “E se me der branco na hora de apresentação?”, “E se perceberem que eu estou inseguro com a apresentação?”.

 

A ansiedade foi útil para sobrevivência da espécie, mas hoje em dia, muitas vezes tememos situações que não nos ameaçam em termos de sobrevivência como, por exemplo, falar em público. A ansiedade normal passa a ser um problema quando a sua frequência e intensidade causam sofrimento a pessoa e esta sente que há prejuízos em seu funcionamento. Por exemplo: Muitas vezes, para evitar a ansiedade podemos perder oportunidade importantes. Assim, quando ser promovido envolve ter maior demanda para falar em público, uma pessoa com ansiedade pode declinar a promoção.

 

É importante saber que existe tratamento. As pesquisas indicam que os resultados mais eficazes para manejo de ansiedade se baseiam na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e, quando necessário, medicação. Assim, não é realista tentar eliminar a ansiedade, mas conviver em paz com ela sim. Nesta empreitada, a psicoterapia pode ajudar muito!

 

Referências citadas:

 

Leahy, R. L. (2011). Livre de Ansiedade. (V. Figueira, trad.). Porto Alegre: Artmed.

 

Polanczyk GV, Salum GA, Sugaya LS, et al. (2015). Annual research review: a meta-analysis of the worldwide prevalence of mental disorders in children and adolescents. J Child Psychol Psychiatry; 56:345–365.

 

Viana, Maria Carmen, & Andrade, Laura Helena. (2012). Lifetime Prevalence, age and gender distribution and age-of-onset of psychiatric disorders in the São Paulo Metropolitan Area, Brazil: results from the São Paulo Megacity Mental Health Survey. Revista Brasileira de Psiquiatria, 34(3), 249-260. https://dx.doi.org/10.1016/j.rbp.2012.03.001

 

World Health Organization (WHO) (2017). Depression and other common mental disorders: Global Health Estimates [Internet]. Disponível em: www.who.int/mental_health/management/depression/prevalence_global_health_estimates/en/

 

Deisy Emerich-Geraldo é Psicóloga, Doutora em Psicologia Clínica (USP), e Professora do curso de Psicologia – Escola da Saúde do Complexo Educacional FMU | FIAM-FAAM