#VozdoAluno: Rompa seu pacto com a branquitude

Nicoli D’Andretta, estudante do 6° semestre do curso de Psicologia

O que costuma doer na pessoa branca é perceber e aceitar que muito de sua realidade é, na verdade, um privilégio construído ao longo dos últimos séculos com base na opressão de povos pretos ao redor do mundo. Assimilar que realidade é igual a privilégio é algo que pode custar a ser aceito. Porque é o mesmo que olhar para trás e perceber que não há muito do que se orgulhar: pelo contrário. É compreender que ser racista não é sobre você, não é pessoal, é sobre toda uma sociedade, da qual você faz parte e se beneficia.

O racismo pode parecer “confortável”, porque é uma estrutura que já está pronta e “funcionando” há muito tempo e, afinal, não foi você quem criou. Mas quando você começa a atentar seu olhar você percebe que a forma de existir atual, onde existem pessoas privilegiadas e pessoas marginalizadas, é uma consequência de séculos de desigualdade. A sensação de injustiça é inevitável.

Mas lamentar não resolve o passado e, muito menos, muda o futuro. É por isso que a geração atual sente necessidade de discutir o que é ser branco, como foi construído o nosso entendimento sobre raça para, então, desconstruir o que é ser uma pessoa para poder recomeçar de forma mais adequada.

Também nós, pessoas brancas, não podemos mais esperar explicações, orientações sobre “como agir para melhorar”. Não foram as pessoas pretas que criaram o racismo: racismos é coisa de branco. Por que empurrar mais um trabalho nosso para as pessoas pretas? O papel da pessoa branca no contexto atual é o de tomar a atitude de pesquisar sobre o passado, compreender toda a violência e todos os crimes que ocorreram e encontrar soluções para mudar a realidade de opressão contra a população preta. Não há mais espaço para pessoas brancas passivas, esse tempo já passou há muito – e não deveria sequer ter existido.

E não há como construir reparação sem conhecer a história que se quer reparar. É agora o momento de as pessoas brancas calarem sobre suas vivências e ouvirem o que a população preta tem a dizer, promover espaços em que possam praticar sua cultura com segurança e, principalmente, espaços em que possam existir em sua plenitude como nunca antes foi possível. O “engajamento por engajamento” não é bem-vindo. É preciso conhecer antes de se posicionar, para que a desconstrução não seja baseada em percepções e olhares automáticos.

As pessoas brancas não vão “salvar” as pessoas pretas, também não é sobre isso – principalmente porque não é possível salvar nada ou ninguém de um perigo criado por você mesmo. A ideia é criar a consciência de que a estrutura racista, apesar de ter sido naturalizada, não é natural. Por meio do conhecimento, da escuta, do posterior diálogo e luta conjunta poderemos começar a vivenciar uma sociedade que seja igualitária, de fato, para todas as pessoas. Para romper com o pacto da branquitude nós precisamos querer fazer isso tanto quanto já quisemos manter nossos próprios privilégios.