FMU realiza VI Simpósio de Saúde Ambiental

Realizado pelo curso de Pós-Graduação da FMU, não ficou só na teoria, inovou no intervalo e deu aos participantes ingredientes para as discussões

 

O coffee-break do VI Simpósio de Saúde Ambiental deu o tom dos debates na manhã da quinta-feira, dia 31 de agosto, em São Paulo, e surpreendeu a todos os participantes. Foram servidos bolo de casca de laranja coberto com geleia de casca de maracujá, torta de sobras de arroz com casca de cenoura e talos de salsinha, e outras delícias neste cardápio original, que traz para a mesa o que iria para o lixo. Para refrescar, água gelada com suave gosto de hortelã e abacaxi, sem desperdício. A mesa variada, formada por alimentos que seriam considerados resíduos na gastronomia tradicional, enriqueceu os debates no VI Simpósio, ao mostrar que é possível adotar no dia-a-dia o conceito de sustentabilidade.

 

“O nexo água, energia e produção de alimentos estava hoje, aqui, no nosso coffee-break”, disse Leandro Giatti, professor associado do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), renomado pesquisador do desenvolvimento sustentável. O palestrante ocupou o palco do auditório da unidade Santo Amaro, da FMU, logo após o intervalo do Simpósio. “Tivemos um coffee-break formado com elementos que seriam resíduos, elementos que seriam um problema para os aterros sanitários, onde iriam poluir e ameaçar os recursos hídricos”, acrescentou ele, doutor em Saúde Ambiental pela própria USP, graduado em Biologia, e com experiência em projetos na Amazônia.

 

A associação feita pelo professor Giatti não foi um detalhe dentro das discussões do VI Simpósio de Saúde Ambiental. Ao contrário, ao apontar pequenas novas atitudes do cotidiano como resposta à crise planetária de água e energia lançou os cidadãos como protagonistas das mudanças. A consciência sobre aquilo que comemos, de como usamos os alimentos em nosso dia-a-dia e da quantidade de água e de energia que precisamos dispender para tê-los é o primeiro passo a ser dado, afirmou Giatti.

 

Neste sentido, o professor sintetizou observação dos demais três palestrantes do dia: as mudanças podem ocorrer em diversas escalas, na prática. “Temos uma diversidade de soluções que dialogam com a sustentabilidade”, disse ele. Contrapondo-se aos céticos, citou as ciclovias e a agricultura urbana familiar como exemplo de novidades que vêm conectando as pessoas à ideia de crise planetária. “Precisamos retomar as coisas mais simples. Nada daquele slogan: solução definitiva (para um problema).” E apontou contradições de nossa sociedade: justamente classes de menor poder aquisitivo buscam alimentos industrializados de pouco valor nutritivo e que, para serem produzidos, exigem maiores quantidades de água e, portanto, de energia _ pois há um nexo em tudo isso.

 

As surpresas do VI Simpósio de Saúde Ambiental não se limitaram ao intervalo do cafezinho. A primeira palestrante do dia, Tatiana Matuk, mestre em Ciências pelo Programa de Mestrado Profissional em Ambiente, Saúde e Sustentabilidade da Faculdade de Saúde Pública da USP e educadora ambiental no Instituto Macuco, fez as centenas de participantes presentes no auditório refletirem sobre o impacto socioambiental dos alimentos comprados. “O Brasil ocupa o posto de maior consumidor de agrotóxicos do mundo”, afirmou ela, apresentando slides sobre o assunto.

 

O segundo palestrante, Afonso Aurélio de Carvalho Peres, doutor em Ciência Animal e mestre em Produção Animal pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), reforçou que não bastam boas intenções de negócios neste campo, mas (muito) planejamento e suor, num empreendimento sustentável. Especialista em Gestão e Estratégias no Agronegócio, ele discorreu sobre o tema da aplicação da engenharia econômica em sistemas de produção sustentáveis e citou o que viu Brasil afora. Sua lição aos presentes: “Vamos gastar tempo planejando, fazendo contas, assim será melhor o resultado”, afirmou. “Faça um raio-x completo do que pretende produzir, onde, quando, a que custo.”

 

Em uma manhã, em que paradigmas foram quebrados, o quarto e último palestrante do Simpósio igualmente inovou ao deixar o palco do auditório e seguir para o meio da plateia. Ele lançou uma pergunta a todos no auditório. “O que você gostaria de saber sobre o que comeu hoje?”, disse Sebastião Faria Jr., doutor em Reprodução Animal pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP).

 

Fundador e implementador da Universidade MSD Saúde Animal, estrutura para educação continuada de público interno e externo desta empresa farmacêutica, Sebastião Faria pediu aos participantes que se reunissem em grupos. O debate aqueceu. As respostas revelaram a preocupação com a higiene do preparo, com a qualidade dos alimentos, com os riscos de contaminação por parasitas e com o desperdício. Ficou claro que o público quer saber se todo o percurso da produção é saudável, controlado e confiável. Em uma palavra: sustentável. Por isso, concluiu ele, os esforços desta indústria farmacêutica na garantia da saúde animal, com o início da cadeia produtiva, e com os seus parceiros.

 

Seu último slide, exibiu frase do filósofo Ortega y Gasset *: “Eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não salvo a mim.” Vale refletir, no próximo coffee-break.

*José Ortega y Gasset foi um filósofo, ensaísta, jornalista e ativista político espanhol

 

O VI Simpósio de Saúde Ambiental do curso de Pós-Graduação em Saúde Ambiental da FMU foi coordenado pela professora Dra. Andrea Roberto Bueno Ribeiro e apresentado no palco pelo professor Ricardo Calil. O debate final, com direito a pergunta da plateia, foi coordenado pelo professor Carlos Augusto Donini. Da abertura, participaram representantes da Reitoria da FMU e da Secretaria estadual de Agricultura de São Paulo.